quinta-feira, 31 de março de 2011
Tecendo a Manhã
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Cecília Meireles
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles
sexta-feira, 25 de março de 2011
PRANTO
Ah...chorar, as vezes choro.
Por tanto, por nada,
por viver, sei lá.
Mas é um pranto que escuto
sei o que me diz,
como a narração de um drama.
Como a visão de um mundo novo,
como viajar na música
no filme da vida inteira.
Aprendi a chorar com as crianças
que lamentam a dor,
mas trocam o sofrimento por um brinquedo.
Chorar é dizer...sinto, vivo, vejo, viajo
ouço a dor do mundo,
escuto os sinos do paraíso.
Demorei muito para entender
a beleza do pranto,
correr para os braços da mãe,
chorar de amor.
Hoje, não há encantamento
que me faça privar minhas lágrimas
de sorrir comigo.
Por tanto, por nada,
por viver, sei lá.
Mas é um pranto que escuto
sei o que me diz,
como a narração de um drama.
Como a visão de um mundo novo,
como viajar na música
no filme da vida inteira.
Aprendi a chorar com as crianças
que lamentam a dor,
mas trocam o sofrimento por um brinquedo.
Chorar é dizer...sinto, vivo, vejo, viajo
ouço a dor do mundo,
escuto os sinos do paraíso.
Demorei muito para entender
a beleza do pranto,
correr para os braços da mãe,
chorar de amor.
Hoje, não há encantamento
que me faça privar minhas lágrimas
de sorrir comigo.
DANNIEL VALENTE